Ano passado, quando percebi que a data de expiração do ensino remoto havia ‘se apagado da embalagem’, dei uma “minissurtada”. Achei cruel ter que expor meu filho a tantas horas de tela para que ele pudesse estudar. Fiquei aguardando os efeitos colaterais do desastre que eu imaginava que seria: dores de cabeça, irritabilidade, problema na visão, frustração. Esses efeitos não vieram pelo uso da tela, mas sim pela falta de convívio social, pelo isolamento, a falta do coleguinha contando aquele caso infinito sobre o fim de semana dele.
Por outro lado, notei que o acesso constante à Internet abriu um portal aqui em casa e para minha surpresa, sabe o que tinha lá? O interesse pelo inglês!
Pôxa, estava lá esse tempo todo? Como eu não havia percebido?
Cada criança tem suas particularidades, que são uma soma do meio em que vivem com o jeito de cada família e uma pitada gigantesca do que faz os olhos dela brilharem (e esse último fator não pode ser ignorado ou apagado).
Descobri que aqui em casa o que faz os olhos do meu filho brilhar está em inglês, yes! Respiro e sigo fingindo normalidade, mas por dentro eu vibro sim, porque sei o tanto que o inglês será importante na vida dele e o quanto ele aprender por meios significativos fará toda a diferença.
Mas como trazer a naturalidade necessária para que não haja pressão?
Resolvi estabelecer algumas regras para mim mesma, o famoso ‘segurar a onda’. Elas são:
1- Sem filmagens. Fico com vontade de filmá-lo falando em inglês, claro! Quero mostrar para os avós, para as minhas tias, pro Renato, rs. Mas preciso primeiramente respeitar a privacidade dele e quero que ele entenda que privacidade não é um valor negociável. Se ele não gosta de ser filmado, não será.
2- Sem pedir para repetir. Assim como não pedimos aos filhos que repitam as palavras na língua mãe, porque pediríamos para aquelas em inglês? Já imaginou: fala água de novo pra mamãe, filho? Pedir para repetir sem motivo aparente para o falante não é prática no desenvolvimento da língua 1 e não deveria ser no da língua 2, especialmente quando pensamos em bilinguismo.
3- Usar o meu repertório de técnicas de ensino de línguas de forma inteligente. Por exemplo, o recast é uma técnica que amo, acho saudável e respeitosa. Quando a criança fala algo com a pronúncia errada, você repete de forma correta, para que ela aprenda. Se a criança diz: Where’s the control? Você responde: Do you want the remote?
4- Estar 100% disponível, demonstrar isso, deixar claro, mandar um avião escrever isso no céu para ele saiba. Para mim, ser a fonte confiável do inglês para ele é muito importante, pois é aí que está o elo que une o inglês, ele e eu.Também preciso que ele entenda que eu não vou saber todas as respostas (não sei nem o que é uma pedra de diorito em português, quem dirá em inglês!) e juntos podemos procurar, pois é assim que se seguirá na vida real.
Enfim, sinto que as regrinhas têm ajudado o processo a ficar mais natural e é muito bom quando começamos a ver aquela sementinha do gosto pela língua germinando. Para quem ficou curioso, o inglês tem sido usado com mais frequência nos seguintes momentos:
- Para jogar Minecraft..
- Para ouvir e cantar junto músicas em inglês (Alok bomba aqui).
- Para utilizar o programa Scratch (um site de programação para crianças).
- Para ler livros digitais.
E para você, como está sendo essa experiência de adaptação à nova realidade?
Paula Manzali, mãe do Pedro de 8 anos.
Parte da equipe Família Bilíngue, professora de inglês e praticante do inglês em casa de forma leve e divertida.