Estamos com os avós! Eu quero manter a interação com a criança em inglês, mas eles não entendem! Como proceder?
Segue uma pergunta que recebi:
Eu falo inglês com meu filho 100% do tempo. Mas quando há outras pessoas interagindo em português com ele, os avós, por exemplo, como devo proceder? Os avós do meu filho não falam e não entendem inglês.
É compreensível que os avós tenham algum desconforto quando não entendem o idioma. Algo importantíssimo pra mim é que a língua não deve ser um fator de exclusão. Se o avô, a avó ou algum outro parente não entende o idioma, é como se estivesse sendo excluído daquele diálogo, daquele momento em família.
E a minha mãe sempre menciona uma frase que é no mínimo interessante. Claro que pode ter interpretações negativas também, mas como ela sempre menciona, vai aí:
“Os netos são a sobremesa da vida.”
Eu admiro muito o trabalho do Adam Beck, autor do livro Maximize Your Child´s Bilingual Ability. Americano, casado com uma japonesa, mora no Japão com os dois filhos, hoje adolescentes.
Ele é muito transparente num relato: Já chegou a “evitar” contato com outras pessoas para não ter que se comunicar na frente dos filhos em japonês, tamanha a importância que ele sempre deu em continuar sendo a fonte de inglês para os filhos.
O livro é excelente.
Não cabe a mim julgar a posição do Adam Beck nesse assunto da vida social. Vou passar um relato da minha experiência sobre o assunto:
Antes do Gabriel nascer, eu e a Cris conversamos com meus pais e com meus sogros sobre a educação bilíngue. Isso em 1998.
No início, tivemos olhares tortos, sim. Com o tempo, eles passaram a achar muito divertido, inclusive a comentar com os parentes e amigos, bastante orgulhosos.
Um dos 4 avós, entretanto, demonstrava claramente que não gostava de não entender o que se passava, o que eu falava… Isso até hoje… Ele entra no carro, eu já mudo para português…
Eu sempre priorizei o inglês, mesmo com outras pessoas em volta. Entretanto, ainda mais importante que educação bilíngue, pra mim é mostrarmos flexibilidade e “awareness”, percepção, atenção ao que está em volta, com relação ao que as outras pessoas estão sentindo, principalmente os mais queridos. Crianças aprendem pelo exemplo.
Me lembro de uma vez, na praia, brincando de castelinho de areia com os meus dois mais velhos, chegaram outras crianças e começaram a brincar também. Eu continuei no inglês. O Gabriel, meu mais velho, na época com 4 ou 5 anos, uma das pessoas que conheço com senso de justiça mais aguçado, sussurrou no meu ouvido.
“Pai, não fala inglês agora não! Eles não estão entendendo!”
Está aí, pra mim, algo muito mais importante que ser bilíngue na infância. Senso de inclusão. Eu, adulto, confesso o que senti a princípio, no meu sentimento mais primitivo: “Poxa, onde estão os pais dessas crianças?”
Mas fiquei muito orgulhoso da atitude do Gabriel e, claro, atendi o pedido dele.
Concluindo, mostrar flexibilidade quando temos outras pessoas em volta pode significar queda de desempenho e menos prática em inglês? Talvez.
Mas tenho duas considerações:
- O fato de o seu filho ter contato com pessoas que falam português é inevitável se você mora no Brasil. O projeto do inglês em família é a semente para o futuro. E se ele for bem executado, um pouquinho cada dia, o benefício vai acontecer de qualquer forma. Se for a curto, médio ou longo prazo, pouco importa. A semente vai germinar.
- A oportunidade de dar exemplo de flexibilidade e inclusão deve ser aproveitada. Sua criança está aprendendo com a sua atitude.
Agora, e se sempre chegarmos na casa da vovó e do vovô cantando assim?
Let’s go to grandma’s house!
I love my grandma, I love my grandpa!
Let’ s go to grandma’s house!
I love to be at grandma’s house!
Conquistar o vovô e a vovó através da corujice deles. Vai aqui um post como sugestão.
Take care, mom and dad.
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Quer saber mais sobre o assunto? Baixe meu E-book: Criando filhos bilíngues em casa. e siga-me nas redes sociais: linktr.ee/renato.alcici